A Pirataria Muçulmana


Texto: Dalton Delfini Maziero

Desde o século XV, grupos de ferozes saqueadores surgiram do litoral norte da África, conhecido como Costa da Barbaria. Sua ferocidade tornou-se lendária. Esses homens não eram meros piratas. Em sua maioria, atuavam como corsários muçulmanos, a serviço do Império Otomano. Esse avanço da pirataria muçulmana intensificou-se com a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453. Desde então, a conquista sobre o Mediterrâneo foi inevitável. Croácia, Sérvia, Bulgária, Egito e ilhas gregas, seguida do litoral africano em toda sua extensão.

Ao longo do século XVI, as atividades realizadas nas principais cidades do litoral africano ganharam proporções de autonomia. Homens como os irmãos Barba-Roxa, usaram da pirataria para tornarem-se reis de seus próprios territórios. Não sem motivo, as cidades muçulmanas de Argel, Tunes, Trípole, Salé e Bugia (Beyaia) foram chamadas “paraísos piratas” pela cristandade. Política, economia, comércio e pirataria seguiam de mãos dadas, na formação daquelas sociedades litorâneas.

Os muçulmanos criaram um novo conceito para a pirataria, até então desconhecido pelos cristãos: os saques misturavam serviços de apresamento e escravidão, guerra e tráfico prestados a quem pudesse pagar. Uma guerra que envolveu negócios e diferenças religiosas entre europeus e comunidades da Costa da Barbaria. E não foram poucos os renegados cristãos que, ora capturados, ora foragidos, abraçaram o mundo muçulmano e seu exótico meio de vida e relacionamento, servindo assim, como “informantes” sobre a cristandade.


Os Irmãos Barba-Roxa
Aruj e Khair ed-Din, os Irmãos Barba-Roxa, nasceram na ilha grega de Mitilene (Lesbos). Aruj, o mais velho, começa a ganhar destaque em 1502, ao proteger como corsário, os navios de Tunes. Em 1504 faz fama e fortuna ao capturar duas galés com importante tesouro cristão. Em 1512 e 1514, lança-se na conquista de Bugia. Os ataques acabam em fracasso, e com a amputação do braço esquerdo do pirata, substituído agora por um braço de ferro com mão de prata. Em 1516, Aruj aplica seu grande golpe. Fingindo uma aliança com o xeque Selim bem Tumi em Argel, assassina-o tomando para si o controle da cidade. Agora como rei de Argel, amplia suas conquistas a Tremecém e Tenes, reinos tributários da Espanha. Aruj faleceu em 1518, em luta contra os espanhóis. Sua cabeça, transformada em troféu, exaltou os ânimos entre muçulmanos e cristãos.

Khair ed-Din, ao saber da morte do irmão, assume o reino de Argel. Declarou-se vassalo do Império Otomano, que recém conquistara o Egito e a Síria e, com este apoio, reuniu os melhores corsários do Mediterrâneo. A partir de 1529, uma série de esmagadoras vitórias navais eleva ainda mais seu prestígio. Em 1533, Khair é nomeado almirante-chefe da armada turca, empreendendo uma incursão bem sucedida na Calábria. Finalmente, em 1535, o espanhol Carlos V reúne uma poderosa frota cristã (500 navios e 30 mil soldados), conquistando Tunes. Em sua fuga, Khair invade Minorca, levando a Istambul milhares de escravos. Em 1541, Carlos V decide conquistar Argel. Contudo, sua frota de 500 navios sofre uma humilhante derrota. Desbaratados por fortes tempestades, milhares de cristãos ficaram cativos nas prisões muçulmanas. Em 1543, Khair alia-se temporariamente à França e, em seu retorno a Istambul, pratica uma série de atos de pirataria. Aos 62 anos (1546), morre em seu leito, rico, respeitado e ainda “rei” de Argel.

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